Este espaço destina-se ao registro das principais linhas de pesquisa em andamento no país. Aqui serão divulgadas as linhas de pesquisa em diabetes das instituições e serviços. Caso você deseje divulgá-la, por favor entre em contato com a redação através do info@diabetes.org.br
Grandes progressos foram feitos nos últimos anos a respeito da fisiopatologia e de novas drogas, visando o controle do diabetes. No entanto, as terapias atuais, incluindo o uso de insulina, são todas paliativas e não levam em conta a lesão básica da doença, que é o dano nas células beta do pâncreas. Assim sendo, o ponto fundamental da cura deve ser a substituição da função das células produtoras de insulina.
Atualmente existem cinco linhas de pesquisa que visam a cura do diabetes:
1. O transplante pancreático
Esta a abordagem mais próxima para a cura do diabetes. Em termos práticos, consiste em um transplante duplo de rim-pâncreas e realizado, principalmente, em pessoas com diabetes em estágio avançado da doença renal. O transplante combinado reduz a rejeição imunológica, quando comparado com o transplante único do pâncreas. Nos últimos anos houve uma melhora acentuada nas drogas que combatem a rejeição e a sobrevivência aumentou bastante. Os agentes imunossupressores modernos são menos tóxicos e direcionados mais especificamente para os linfócitos.
Os mais utilizados são: o mycophenilato, que age sobre uma enzima crtica na proliferação dos linfócitos T e B. Outros agentes imunossupressores são o sirolimus, que inibe a interleucina IL-2, e o tacrolimus, que bloqueia a calcineurina. Além disso, estão sendo utilizados anticorpos monoclonais contra o receptor da IL-2.
Nos últimos dois anos, graças as estes agentes, a sobrevivência dos transplantes atingiu 90% dentro de 1 ano. O grande problema ainda são os doadores. Os transplantes duplos são atualmente realizados em pessoas com lesões muito graves e que regridem muito pouco após a cirurgia. O ideal seria que os transplantes fossem realizadas em estágios mais precoces da doença.
2. Transplantes de ilhotas
Segundo alguns autores, esta a técnica mais promissora para a cura do diabetes. Muitos trabalhos têm sido feitos na área, visando a sua utilização em um grande número de pessoas com diabetes. As técnicas atuais isolam e encapsulam as ilhotas produtoras. O recipiente poroso deve permitir a passagem da glicose para dentro da cápsula, estimulando a liberação da insulina para fora. Além disso, a membrana da cápsula deveria bloquear a passagem dos anticorpos, evitando a rejeição.
Uma abordagem alternativa que tem sido utilizada é fazer transplantes de ilhotas e usar os imunossupressores. Existem alguns protocolos em andamento - cujo resultado foi publicado na coluna Diabetes Hoje - com alguns relatos do grupo da cidade canadense de Edmonton. Os melhores resultados são obtidos quando as ilhotas são isoladas e um grande número delas transferidas rapidamente. São usados imunossupressores de baixa toxicidade. São necessários dois doadores para cada paciente. Metade dos pacientes necessita de um segundo transplante e alguns, de um terceiro. Assim são necessários quatro doadores por paciente.
Nos Estados Unidos existem cerca de 5000 doadores de pâncreas por ano e somente 2500 podem ser usados para isolamento de ilhotas. Assim sendo, o número de possíveis transplantados cai para 700 pessoas por ano.
Um esforço para aumentar o número de células disponíveis a aumentar a neoformação de células beta. No passado, acreditava-se que as células beta não se replicavam. Hoje sabe-se que elas se renovam na velocidade de 2% ao mês e se estudam mecanismos que possam aumentar esta velocidade.
Outro caminho é o uso de células-tronco fetais ou de cordão umbilical, que possam ser modificadas, cultivadas in vitro e reimplantadas. Pensa-se, ainda, em cultivar células-tronco do próprio pncreas. Aqui neste site já foram divulgados vários estudos neste sentido e essas abordagens podem aumentar em muito os possíveis beneficiários. Em breve, outras técnicas, inicialmente mencionadas, serão relatadas.
3. Engenharia genética
A terceira abordagem em busca da cura do diabetes tem sido a aplicação de técnicas de engenharia genética. Isso envolve a transformação de outras células do corpo em células produtoras de insulina, por meio de técnicas de implantação de um gene relacionado com a produção de insulina. Uma das linhagens utilizadas é a de células de tumores hipofisários, para os quais foi transferido um gene promotor de insulina. Estas técnicas exigem que a "nova" linhagem celular seja capaz de produzir insulina quando estimuladas por glicose e que no produzam nenhum outro hormônio da hipófise, como por exemplo o ACTH que totalmente é indesejável no diabetes.
Outras células tem sido utilizadas como a de tumores pancreáticos. Estas são capazes de reconhecer o estímulo glicêmico, mas não produzem a insulina como deviam fazer. Um dos genes estudados é o Glut 2, que atua no metabolismo intermediário da glicose.
Um trabalho interessante foi publicado, recentemente, na revista Nature por pesquisadores coreanos, que combinaram conhecimentos de engenharia genética e terapia gênica. A experiência, realizada em ratos, foi desenvolver um gene que produz uma molécula simplificada de insulina (uma única cadeia, quando usualmente são duas) e que é responsivo ao estímulo glicêmico. O gene foi, então, introduzido em células hepáticas de ratos glicêmicos, que ficaram curados por muito tempo.
4. Pâncreas virtual
Esta é uma técnica proposta por biotecnologistas. Envolve o desenvolvimento de um pâncreas artificial, que deve ter a capacidade de liberar insulina mediante o estímulo glicêmico. Este aparelho deve ser capaz de reconhecer os nveis glicêmicos, as suas variações e a velocidade com que a glicemia aumenta ou diminui no organismo. Não é uma tarefa fácil, mesmo para os mais competentes bioengenheiros. Recentes desenvolvimentos de biosensores para glicemia podem representar uma esperança no desenvolvimento desta linha de trabalho.
5. Neogênese de ilhotas
Uma linha de trabalho que está sendo desenvolvida no Instituto de Diabetes de Norfolk, Virgínia (USA), o desenvolvimento de substâncias que possam estimular a formação de ilhotas a partir de células-tronco existentes no pâncreas adulto. Existe uma família de proteínas, chamadas lectinas do tipo C, que são associadas com o início da formação de ilhotas.
Desta família fazem parte as Reg proteínas. Em ratos pancreatectomizados tem sido mostrado um aumento da expressão destas proteínas, mas o efeito é considerado fraco.
Outra proteína da família da lectina, recentemente descrita, tem sido a INGAP (Inslet Neogenesis Associated Protein), que também induz a neogênese de ilhotas. Estas abordagens podem eliminar a necessidade de imunoterapia, desde que são as próprias células das pessoas são induzidas a produzir novas ilhotas. Mais do que isto, estas células contêm, também, glucagon, o que evita as hipoglicemias e podem ser utilizadas também no tratamento do diabetes tipo 2, quando houver falência pancreática.
Conclusão
Muitas linhas de pesquisa estão ocorrendo simultaneamente, visando a cura do diabetes, no entanto como foi descrito nos resumos acima, nenhuma técnica satisfatória no momento.
É possível que nos próximos 5 a 10 anos possamos ter pelo menos uma escolha para aumentar a produção de insulina, de uma maneira tal que os níveis de glicemia sejam bem regulados e sem a necessidade de imunossupressão ou os riscos de hipoglicemia.
*Consultoria: Reginaldo Albuquerque, membro do Conselho Científico do site da Sociedade Brasileira de Diabetes.
Fonte: www.medscape.com
Pesquisas em Andamento
Postado por EMEIF 15 DE OUTUBRO às 05:45
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